"Nesse início do verão 2012, o Brasil pode perceber de novo que as famosas “águas de março” de Tom Jobim, parecem ter sido adiantadas para janeiro causando grande impacto... O mesmo ocorreu em janeiro de 2011 em decorrência da grande tragédia vivenciada por várias localidades do país, como algumas cidades de Minas Gerais e São Paulo e principalmente na região serrana do estado do Rio de Janeiro, ocasionada pelas fortes e intensas chuvas, cabe aos profissionais de várias áreas e a população em geral, voltarem a atenção aos vários fatores que envolvem tal acontecimento. Neste sentido, nós, como psicólogos, falaremos especificamente dos impactos psicológicos sofridos pela população frente a desastres naturais como este.
Sabe-se que o estresse é fruto de uma avaliação negativa que a pessoa faz da relação entre si e o ambiente em que vive no enfrentamento de uma situação que considera além da sua capacidade de suportar, fato que ameaça seu bem-estar. Os fatores estressores são vividos de diferentes formas pelas pessoas e tem influência significativa sobre o desenvolvimento infantil, podendo trazer conseqüências desfavoráveis, variando de acordo com a estrutura de apoio física e psicológica com que cada criança pode contar. Trata-se de situações de extremo desgaste emocional, nas quais mesmo com auxílio profissional (o que não é disponibilizado às vítimas a não ser pelo trabalho voluntário) ainda é algo bem complexo para a pessoa lidar.
A forma como as pessoas adquirem e desenvolvem a capacidade de enfrentar as situações difíceis da vida e como se preparam para sobreviver com sucesso frente às experiências dolorosas, é dado fundamental para uma melhor compreensão das conseqüências psicológicas dos eventos catastróficos. O impacto psicossocial de qualquer evento traumático depende, portanto, de fatores como a natureza do evento, as características da personalidade das vítimas, o seu contexto e as circunstâncias.
A ação imediata das autoridades é essencial para evitar que as pessoas afetadas pelas enchentes e deslizamentos na Região Serrana do Rio sofram de transtorno de estresse pós-traumático. Na opinião do psicólogo Chris Brewin, que trabalhou com vítimas do furacão Katrina, que devastou a cidade de Nova Orleans em 2005, a prioridade dos governos federal e estadual uma semana após a tragédia deve ser "reconhecer a dor das pessoas e tentar reconstruir a comunidade o mais rapidamente possível".
"No Katrina, o governo demorou demais para entrar com ajuda. As pessoas se sentiram abandonadas", avalia Brewin, membro da Divisão de Psicologia e Ciências Linguísticas da University College of London (UCL).
Irwin Redlener, diretor do National Center for Disaster Preparedness (Centro Nacional de Preparação para Desastres) da Columbia University, em Nova York, que também trabalhou com vítimas do Katrina, afirma que os governos têm a responsabilidade de oferecer apoio psicológico às vítimas. "Em desastres naturais como o que está acontecendo no Brasil é certo que as pessoas vão necessitar de apoio psicológico, se não ao longo dos próximos anos, pelo menos nos próximos meses", afirma. O centro que ele comanda na Columbia University foi criado após os ataques de 11 de setembro, com o objetivo de melhorar a capacidade do país de preparação, resposta e recuperação de desastres.
Vários tipos de reações emocionais podem ser esperados das vítimas nestes dias que se seguem ao desastre na serra fluminense. Muitos podem estar revivendo a situação o tempo todo, "sentindo medo e pavor novamente". Outros podem estar evitando a todo custo pensar ou falar sobre o que passaram, e há ainda os que podem estar "sobressaltados, levando sustos facilmente e tendo pesadelos". Essas reações, no entanto, são normais e, num primeiro momento, não devem ser identificadas como transtorno de estresse pós-traumático. "O diagnóstico só pode ser feito após um mês de sintomas ininterruptos. Antes disso não podem ser chamados de transtorno", esclarece Reddy. As pessoas com mais chances de desenvolver a condição são as que tiveram suas vidas ameaçadas e viram parentes morrer. Em seguida, vêm os que não correram risco de morte, mas perderam familiares e conhecidos. Em último, estão as pessoas que não sofreram perdas diretamente, mas estão "horrorizadas" com o episódio.
O QUE FAZER PARA SE TER O BEM ESTAR?
• Abraçe sua comunidade: De acordo com os especialistas ouvidos pela BBC Brasil, cerca de 60% das vítimas de desastres se recuperam do trauma sozinhos, sem precisar de apoio psicológico. Para os 40% que desenvolvem o transtorno, a ação da comunidade, com o apoio do governo, é extremamente importante. Reddy conta ter coordenado um grupo de especialistas que ajudou vítimas do terremoto que matou 18 mil pessoas na Turquia, em 1999, e que se surpreendeu como o "valor da comunidade" foi imprescindível para a recuperação de milhares de pessoas que perderam tudo.
• Abuse da Arte: Uma das técnicas é retratar o evento em forma de desenhos , peças teatrais ou pinturas, porque são meios aceitáveis de lidar com a dor. Isso pode passar pela música, dança, ou até uma novela.
• Terapias: Segundo os especialistas, cerca de 15% dos pacientes não conseguem superar o transtorno de estresse pós-traumático, apresentando sintomas como ansiedade e depressão até três anos após o evento. Nesses casos, terapias individuais são o tratamento mais recomendado.
Apoio Psicológico:
A ONG Médicos Sem Fronteiras (
http://www.msf.org.br) Tem um apoio psicológico para populações que sofreram traumas com vários tipos de desastre. Os psicólogos e psiquiatras de MSF aplicam terapias intensivas de curta ou média duração baseadas principalmente em entrevistas, para aliviar e ajudar as pessoas que necessitam desses cuidados. Um tratamento medicamentoso pode ser combinado à psicoterapia nos casos mais graves. O apoio psicológico é oferecido às pessoas que apresentam problemas após vivenciar episódios de violência e perda em contextos de conflito, guerra, catástrofes naturais, epidemias ou ainda violência sexual. Durante um desastre natural, pelo contexto emergencial e imprevisível, o apoio psicológico não é um atendimento de primeira linha nas ações de primeiros-socorros. Mas num segundo momento, MSF oferece tratamento psicológico em suas estruturas médicas nas regiões afetadas."
Governo decide criar força-tarefa para prevenção de desastres naturais:
Depois de tantas tragédias, o governo decidiu criar uma força nacional contra desastres naturais. Trata-se de um pacote de ações e de medidas. Enfim, é remediar o que não foi prevenido e o que o governo, mais uma vez, não conseguiu prevenir. Depois da tragédia, das mortes e da catástrofe anunciada, uma força-tarefa vai atuar nas áreas atingidas pelas chuvas.
Mais em: http://www.jornalfloripa.com.br/politica/index1.php?pg=verjornalfloripa&id=2776
Fonte: G1, Jornal Limeira, MSF, Jornal Floripa. Adaptado por Déborah G. V. de Campos e Lázaro Augusto Alecrin Vieira